terça-feira, 12 de maio de 2009

O Homem Vidrado

Ele sempre quis ter certeza de que teria sua estátua de vidro consigo. Saudade não era parte de seu vocabulário, nem deveria ser incluída. Não era zelo ou coisa parecida, mas sim uma necessidade de observar aquela mulher sinuosa sobre o mármore gelado. Dizia ele que através dela o mundo parecia diferente... com variadas formas e cores. Seu prazer incomensurável... um deleite que só ele poderia explicar.

Por ter de se dividir entre Espanha e Inglaterra, mantinha uma estátua de vidro feminina em um lugar e outra noutro. Assim ele poderia admirar sua amada e ver o mundo através de sua lente. Sempre.

Sua suposta esperteza, porém, caiu por terra com o passar do tempo. Com tanto observar, ele criou um afeto especial por cada uma, de forma única. Percebeu que por mais parecidas que fossem, cada uma tinha seus ângulos sutilmente diferenciados. O que causava uma admiração e visão de mundo muito díspares.

Então começou a sentir saudade... e a estátua de vidro que ficava em Londres não satisfazia a falta que a estátua de Maiorca fazia. E o próprio vidro de suas mulheres começou a derreter, enciumado. Pois uma sabia da existência da outra.

E foi assim que ele perdeu a sua primeira estátua de vidro... liquefeita no chão da casa. Um horror! E a partir de então, buscava sempre uma estátua igual àquela... que o fazia ver o mundo como ela e só. Sem nunca entender que não haverá outra igual.

Nem de vidro, de gelo, ou real.


3 comentários:

Monique disse...

Um dos melhores.

Bianca L. Forreque disse...

E sabe o que é mais legal?! Apesar de ser feio, o vidro derrete e torna-se moldável novamente. Pode até ser algo mais bonito, mais cristalino... Mas o mundo através dele nunca mais será o mesmo, também...

Raphael C. Lima disse...

É vero. Mas alguns vidros, como os dos espelhos, não são recicláveis. rs.

Ah, achei que o visual assim mais clean combina melhor com o seu blog.