quinta-feira, 28 de maio de 2009

E ao abrir as asas....

Borboleta só abre as asas porque, ao sair do casulo, a saída é TÃO apertada que ela precisa fazer uma força descomunal. Assim os vasos são irrigados, tornando-a pronta para voar. Sem esse processo doloroso ela não voa.

Ela não voa.

E o casulo fica lá, perfeitinho. Mas fica lá. No passado...

Tem gente que nunca sai do casulo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sentir-se amado, por Martha Medeiros

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas

mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma

diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e

verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija,

transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça

pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver

e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas

enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a

dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,

que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão

dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos

para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja

delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te

trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois

anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica

triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que

você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando

eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou

sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não

transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado

aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro.

Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que

sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e

compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente

como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem

nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas

suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O Homem Vidrado

Ele sempre quis ter certeza de que teria sua estátua de vidro consigo. Saudade não era parte de seu vocabulário, nem deveria ser incluída. Não era zelo ou coisa parecida, mas sim uma necessidade de observar aquela mulher sinuosa sobre o mármore gelado. Dizia ele que através dela o mundo parecia diferente... com variadas formas e cores. Seu prazer incomensurável... um deleite que só ele poderia explicar.

Por ter de se dividir entre Espanha e Inglaterra, mantinha uma estátua de vidro feminina em um lugar e outra noutro. Assim ele poderia admirar sua amada e ver o mundo através de sua lente. Sempre.

Sua suposta esperteza, porém, caiu por terra com o passar do tempo. Com tanto observar, ele criou um afeto especial por cada uma, de forma única. Percebeu que por mais parecidas que fossem, cada uma tinha seus ângulos sutilmente diferenciados. O que causava uma admiração e visão de mundo muito díspares.

Então começou a sentir saudade... e a estátua de vidro que ficava em Londres não satisfazia a falta que a estátua de Maiorca fazia. E o próprio vidro de suas mulheres começou a derreter, enciumado. Pois uma sabia da existência da outra.

E foi assim que ele perdeu a sua primeira estátua de vidro... liquefeita no chão da casa. Um horror! E a partir de então, buscava sempre uma estátua igual àquela... que o fazia ver o mundo como ela e só. Sem nunca entender que não haverá outra igual.

Nem de vidro, de gelo, ou real.


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Soneto de Fidelidade, por Vinícius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.