sábado, 29 de novembro de 2008

Outra fábula da Raposa e as uvas


O Coelho e a Raposa formavam um belo casal. E, assim como em qualquer outro relacionamento social, o Coelho cometia alguns sacrifícios pela Raposa e pedia, em troca, que ela não comesse as uvas que ficavam sempre sobre a mesa. A Raposa não se pronunciava, mas dizia que não queria desapontar o amante.

Porém, o Coelho não é bobo e começou a perceber que algumas uvas estavam sumindo do cacho. Pelo bem do casal, ele decidiu nada comentar. Pensou, talvez erroneamente, que conversar sobre isso seria uma ofensa à Raposa ou, no mínimo, palavras ao vento. A Raposa já não estava ciente do que o Coelho pensava? Além do mais, o Coelho não tinha completa certeza de que a Raposa havia comido as frutinhas. Poderia ser o rouxinol, ou o texugo que rondavam sua c

asa com freqüência.


O Coelho confiou.

Foi numa noite escura, quando os dentes brancos da Raposa se revelaram sujos, que o Coelho teve a revelação: as cascas da uva se agarravam firmemente aos dentes afilados do Quadrúpede. Aquela visão causou um asco tão, mas tão grande no

 Coelho que só lhe restou virar a cara e vomitar toda a cenourada no chão. E, logo depois, pôs-se a chorar.


Enquanto a Raposa sorria, confiante e radiante, o Coelho perguntava por quê ela havia feito uma coisa dessas.

“Porque é de minha natureza...”

A Raposa justificava com seu instinto animal.

“... e porque não gosto da sua comida.”


Enfim, todas as vezes que o Coelho olhava para a Raposa, a partir desse dia, sentia um nojo, com pontadas no estômago, por lembrar das uvas entre os dentes.