terça-feira, 31 de março de 2009

Palavras, apenas...


Quantas mil vezes somos pegos de surpresa por um texto, uma frase, uma palavra? Pois é. Pode ser uma palavra áspera, de otimismo ou de conforto. Como quando precisamos de um gás, uma propulsão, e chega alguém do nosso lado, gentilmente sussurrando palavras capazes de animar até um moribundo.

O problema é que nem sempre sabemos o quanto essas palavras são sinceras. Ou melhor, seus interlocutores. E aí não tem jeito mesmo. É apostar suas fichas cegamente. Mas vale a pena pagar pra ver, quando não confia nem mesmo nas palavras desse alguém? Quem joga palavras ao vento joga seu caráter, sua honestidade e dignidade ao vento também. Porque esse é o contrato mais fiel de um homem: sua assinatura verbalizada sob cada palavra profetizada.

Não que eu acredite que todos sejamos vermes hipócritas. E sim, todos têm seu lado Pinóquio. Mas mentir por ingenuidade é infinitamente mais perdoável que envolver várias pessoas de seu convívio numa trama de joguinhos e palavras traiçoeiras, sabendo que elas correm o sério risco de serem muito magoadas.

Que não haja dúvidas: traição também é verbal.

É fácil demais encantar pessoas por meio de frases prontas, verbetes e elogios graciosos. “Sinto saudades”; “é bom estar aqui contigo”; e o clássico “te amo!”... Coisas assim, que criam expectativas, geram empolgação, sorrisos, vontade de ouvir de novo... Mas, com o tempo, as atitudes demonstram o contrário de todas essas palavrinhas mágicas e o desfecho da peça torna-se, aos poucos, dramático.

Porém, ainda piores talvez sejam essas palavras malditas e mudas. Que nunca são ditas... morrem no silêncio mesmo antes de nascerem. Frases que talvez mudassem o curso da história e fizessem você ser compreendido, porque nem tudo está sempre bem explicado. Frases que viram pó, numa fração de segundo, desarmadas por uma frase disparada da arma alheia, tal como um “estou feliz por te ter aqui”. Malditas frases hipnotizantes que nos tomam o ar e as nossas benditas frases junto...

E o teatro torna-se um monólogo assustado, em um só tempo. Descompassado, as falas parecem embolar-se umas nas outras e nada mais faz sentido. São só palavras pequenas. Palavras, apenas. Palavras... ao vento.


𝄞 Talk tonight, by Oasis