segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Boom.


Quarta-feira, 11:35 a.m.

Minha mãe sentou-se na cama do quarto onde eu estava. Eu usava o computador, sem me preocupar com a cirurgia pela qual ela ia passar em pouco tempo – pelo menos assim parecia.

Você já tentou esconder uma grande preocupação? Aposto que sim. O medo de deixar outras pessoas tão mal quanto você mesmo, ou então pior, faz com que você esconda fatos relevantes da sua vida.

Logo minha mãe...

Uma das únicas que eu sempre confiei de olhos vendados. Minha melhor amiga, minha melhor conselheira; aquela que me conhece, me desvenda com um simples olhar. Eu tinha que esconder meu medo dela. O tempo todo eu pensei que medo e outros pensamentos negativos fossem altamente contagiáveis, ou seja, se eu me abrisse com ela naquele momento, provavelmente ela também se sentiria amedrontada (ou deveria dizer “mais ainda”?) e tudo ocorreria de um modo pior.

Nós trocamos algumas palavras, nada demais, até que ela se levantou e retirou-se. Antes que eu soubesse, ela já tinha ido embora – e eu nem ao menos me despedi dela.

1:00 p.m. minha mãe já deveria estar entrando na sala, pronta para ser operada, enquanto eu me preparava para mais uma aula (é ano de vestibular!). O simples fato de não ter me despedido dela me doía, eu me sentia culpada. Mas tudo estava bem. Eu tinha confiança de que tudo ia dar certo e esse pesadelo iria acabar logo. Tiraram-lhe o seio esquerdo, onde o nódulo se encontrava. Benigno ou maligno? Ninguém sabia ainda. Eu nem pensava nisso... só queria que tudo ocorresse bem.

~11:00 p.m. meu pai chega em casa; senta-se na poltrona perto de mim, tira os sapatos, as meias... e me fala que tudo deu certo. O jogo na tevê rolando. Então, sem aviso prévio, eis que vem a bomba: o tumor era maligno. E eu nem tinha pensado nisso! “Ela vai ter que fazer quimioterapia, mas vai ficar tudo bem”, me dizia ele. Me veio uma vontade louca de chorar, mas não ali, não agora! Mantive o olhar direcionado à televisão, até gritava de vez em quando com as jogadas do meu time. À toa, eu nem ligava mais pro jogo. Mas a gente sempre tem que disfarçar... besteira.

A palavra câncer sempre me assustou. Mal do nosso século, doença sinistra, discreta, a gente mal percebe. Mas, quando vem, parece que desaba tudo de vez.

Eu preciso dizer, e não é por não querer te preocupar, mas eu tenho confiança de que ela vai sarar bem – e rápido. Claro que é uma questão de tempo e paciência. A quimioterapia vai mexer com ela: os cabelos irão cair, provavelmente irá se sentir mal algumas vezes, mas tudo vai acabar bem. Mas é impossível dizer que eu me sinto absolutamente bem. Eu ainda choro, tenho vontade de sumir, de fazer alguma coisa urgentemente. Agora eu tenho medo de perdê-la de qualquer outro possível jeito. Eu quero fazê-la rir, ser feliz, mas é difícil. Pode não ser minha culpa, mas eu não consigo me conter com isso. Agora que ela já está em casa e nós temos que cuidar bem dela, eu tenho medo de fazer coisas erradas, e acabo me afastando de algum jeito. Eu preciso fazer tudo certo, ser uma fonte de paciência, tenho que estudar, há a pressão de ir bem na escola, passar na UFES, ser isso, ser aquilo. Eu estou tiltando!

A partir de agora eu preciso achar minha luz – e irradiá-la.

Hikari.