E ela sorria. Doce, meiga e fofinha de querer apertar as bochechas! Os olhinhos, azuis como o céu da manhã com cheiro de canela, eram tão sinceros que ninguém poderia crer em maldade alguma vindo desse pequeno anjo.

“Que guardas?” E inclinou a cabeça para a direita, num ímpeto de curiosidade.
A menina continuava com os dois bracinhos rechonchudos para trás, segurando algo. Queria fazer uma surpresa! Sabe como são as crianças... sempre aprontando alguma diversão!
“Com esse sorriso, eu diria que é uma generosa porção de comida. Mas também pode ser uma foto que queira me mostrar. Vamos! Revele!” Ele começou a pensar, tornando-se agradavelmente impaciente.
A bonequinha viva dançou em um só pé; ameaçou um giro... mas, continuou parada, revelando nada mais que uma expressão adorável. Que bochechas gorduchas! Que risadinhas gostosas!
“Opa! É agora!” E deu um pulinho à frente, quase subindo em cima da menina.
Ela esticou um braço, enquanto o outro continuava guardando o segredo sob sete chaves, ou cinco dedos. Levou o dedinho ao nariz do amigo, brincalhona. Riu mais um pouco enquanto se inclinava. Desequilibrou-se por um segundo e riu ainda mais, agora de si mesma. Era deliciosamente desastrada, como uma boneca de pano que não pára em pé.
“Ei, agora chega, vamos? Mostre-me o que tens!” E passou a inquietar-se.
O sorriso afinou no rostinho redondo da personificação de bondade que era a menininha. Era agora. A curiosidade do amigo finalmente seria extingüida. Enquanto uma mãozinha procurava apoio na parede ao lado, o outro braço começou a se mover lentamente... O rosto se aproximava, carregando seu sorrisinho. Até que, enquanto o pequeno esbugalhava os olhos, pronto para o surpreendente grand finale, o braço da bonequinha de pano moveu-se rápido o bastante para o passarinho não ver mais nada, muito menos voar em retirada. Numa só estocada, lá se foi a curiosidade, a vitalidade e todo o resto do bichinho. Ficou só carne, pena, queratina e ossos. Ah, sem nos esquecermos do sangue escorrendo. E o sorrisinho do anjinho que guardava alguma boa surpresa a ele...
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foto por Amanda